Durante muito tempo, o lactato foi considerado o “vilão” do exercício físico, associado à fadiga, à queimação muscular e até à dor tardia após treinos intensos. No entanto, as evidências científicas atuais mostram um cenário completamente diferente: o lactato é, na verdade, um aliado fundamental do desempenho e das adaptações ao treinamento.
O que é o lactato?
O lactato é a forma ionizada do ácido láctico, produzido a partir do piruvato pela enzima lactato desidrogenase (LDH). Esse processo não ocorre apenas em condições “sem oxigênio”, como se pensava, mas também em exercícios aeróbios. Sua principal função é regenerar o NAD⁺, molécula essencial para a continuidade da glicólise, permitindo que o músculo produza energia mesmo em esforços de alta intensidade.
Por que o lactato aumenta no exercício?
Quando a produção de piruvato excede a capacidade imediata das mitocôndrias em oxidá-lo, ocorre o aumento da produção de lactato. Esse lactato não fica “parado” no músculo: ele é exportado por transportadores específicos (MCTs), circula pelo sangue e pode ser utilizado por outros tecidos, como coração, cérebro e músculos menos ativos.
Lactato como fonte de energia
Longe de ser apenas um “resíduo metabólico”, o lactato é uma fonte de energia valiosa. Ele pode ser oxidado rapidamente no músculo e no coração ou convertido novamente em glicose no fígado, através do Ciclo de Cori, garantindo combustível extra para o corpo durante e após o exercício.
Lactato como molécula sinalizadora
Estudos recentes apontam que o lactato atua também como molécula sinalizadora. Ele estimula adaptações importantes como biogênese mitocondrial, angiogênese e até plasticidade neural, participando diretamente da melhora do desempenho e da saúde metabólica.
Lactato, acidez e fadiga: Desfazendo o mito
A antiga ideia de que o lactato era responsável pela acidose e pela fadiga muscular foi superada. Na verdade, a produção de lactato ajuda a atenuar a queda do pH durante o exercício, funcionando como um mecanismo de defesa. A fadiga tem múltiplas causas, mas o lactato não é uma delas.
Lactato e dor muscular tardia
Outro mito comum é associar o lactato à dor muscular tardia, que surge 24 a 72 horas após o treino. A ciência mostra que essa dor está ligada ao dano muscular e processos inflamatórios, especialmente em exercícios excêntricos, e não à concentração de lactato.
Lactato na prática do treinamento
Os chamados limiares de lactato (LT1 e LT2) são ferramentas úteis para medir a intensidade do exercício e organizar zonas de treino. Eles ajudam a identificar pontos onde a produção de lactato começa a se acumular no sangue, servindo como marcadores para prescrição de treinos mais individualizados.
Além disso, estratégias de recuperação ativa após treinos intensos favorecem a remoção de lactato, ainda que sua importância para o desempenho subsequente dependa do contexto.
Conclusão: Lactato é bom ou ruim?
O lactato deixou de ser visto como um inimigo do exercício para assumir o papel de protagonista em diversos processos que favorecem o desempenho físico e a saúde. Em vez de ser o responsável pela fadiga e pela dor muscular, ele atua como combustível eficiente para músculos, coração e cérebro, além de servir como matéria-prima para a produção de glicose no fígado. Mais do que isso, é também um sinalizador metabólico, capaz de induzir adaptações importantes como o aumento da capacidade mitocondrial e a melhora da performance. Assim, a elevação do lactato durante o treino não deve ser interpretada como algo negativo, mas sim como um reflexo de grande solicitação energética e de um organismo que está se adaptando para suportar maiores demandas. Em outras palavras, o lactato não é um vilão, e sim um aliado indispensável na jornada de quem busca evolução por meio do exercício físico.
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